quinta-feira, 16 de julho de 2009

Interlúdio: Making of Kind of Blue 50th Anniversary Collectors Edition


So What
(Primeira Parte)


"So What' tem uma figura simples baseada em 1 compasso de uma escala, 8 de outra e mais 8 da primeira, que segue uma introdução de piano e baixo num estilo rítmico livre. (Do texto de contracapa de Bill Evans)

IT: Vamos lá.
MD: Espera um momento.
IT: CO 62291, Take 1
MD: Espera um momento
Não-Identificado: Um minutinho....

"So What" é de longe o tema de Kind of Blue mais conhecido e o que mais recebeu covers. Para muitos ouvintes um dá nome ao outro. Quando músicos e fás falam de uma suposta faixa-titulo de Kind of Blue, invariavelmente estão se referindo a "So What".
A popularidade definitiva da música se explica, ao menos em parte, por seu memorável tema de abertura (na seguência do prelúndio dos sonhos). Trata-se simpliesmente da melodia mais identificável e memorável de todo o albúm, uma frase lírica tão solta, natural e gingada quando um assobio de fim de tarde de um transeute. "So What", embora formalmente estruturada sobre um grupo simples de escalas, exibe transpârencia de composição; soa mais natural e improvisada do que escrita, propriamente. A oscilação entre intenção e processo apenas favorece seu fascinio permanete. Miles se lembrava de ter extraido inspiração melódica e emoção de duas fontes bem especificas: o folclore africano e o gospel americano.O primeiro veio de uma trupe de dança da Guiné apresentada a ele por sua namorada Frances Taylor. "Fomos a uma apresentação do Ballet Africaine...O ritmo deles!...Eles faziam ritmos em 5/4 e 6/8 com 4/4, eo ritmo se alternava e irrompia". A trupe tambem destacava um músico de calimba que fazia umas escalas africanas diferentes enquanto tocava. "Quando ouvi essa trupe pela primeira vez tocando o piano de dedo naquela noite, cantando uma música enquanto outro dançava, cara, foi uma coisa poserosa".

A música de igreja veio de uma lembraça marcante das visitas à fazenda de seu avô na infância:
"Acrescentei outro tipo de som que eu me lembrava do Arkansas, quando voltavamos da igreja para casa e eles estavam tocando aqueles gospels incriveis. Esse sentimento foi o que tentei recuperar...Eu, com 6 anos, caminhando com meu primo por aquela estrada escura do Arkansas".

Miles temperou seu coquital musical com uma dose de música erudita modertna, como Ravel e Rachmaninoff ("tudo misturando em algum ponto"), mas percebeu que o resultado final não correspondia ao que imaginava originalmente.

"Quando escreve uma coisa e então algém toca aquilo e leva tudo para outra diração por sua criatividade e imaginação e você acaba perdendo o rumo de onde achava que estava indo... Não consegui a correspondência exata do som do "piano de dedo" africano...mas isso era o que eu estava tentando fazer em grande parte do albúm, especialmente em "All Blues" e "So What"".

A outra característica marcante do tema - que seria o primeiro do albúm - é seu prelúndio divagante, tocado em rubato ( ou seja, deslocado no tempo em relação à estrutura predominante da música), atmosférico e carregado de expectativa. "Em So What, a introdução foi composta com uma única frase e Paul e eu a tocamos acrescentando alguma harmonia", relembrou Evans. Quando teria escrito esse prelúndio memorável? Não parece ter sido Bill Evans, que, embora irredutível quanto ao crédito que lhe foi negadao em "Blue in Green", jamais reivindicou autoria de qualquer tipo em "So What", e cujas palavras sugerem que ele ja recebeu a música pré-pronta. Todos os sinais aponta ou para Miles Davis ou para Gil Evans. Nessa época, Gil foi visto com frequência compondo informal porém intensamente em parceria com Davis, e seria Gil quem rearranjaria o prelúndio para uma apresentação de TV um mês depois e para uma orquestra de 21 músicos que executou "So What" no histórico concerto de Miles no Canergic Hall, em 1961. A controvérsa sobre o prelúndio ser criação de Gil é incitada pela viíva, Anita Evans, que se lembra de ouvir do marido que ele havia composto o trecho. Cobb, quando questionado, se posiciona claramente: "Cara, isso soa como coisa do Gil".

Com Bill Evans agora ao piano e Kelly ao que tudo indica, permanecendo para ouvir (muitos músicos visitas ficaram pelo estúdio durante as gravações de jazz, fosse para assistir ou incentivar), as fitas começaram a rodar e captar o arco de Chambers fazendo o tema de "So What". Instantaneamente impregnante, ele é cantarolado porouto músico, enquanto o sexteto se prepara para gravar aquela que virá a ser a faixa inicial do álbum.

IT: Número 2, Take 1.

Evans e Chambers passam a música juntos, firmando a etéria introdução de baixo e piano. Herbie Hancock descreve o feito rubato: "Simplismente parecia que Miles tinha dado (a Chambers) instrução para tocar essa introdução (prelúndio) fora do tempo, do modo a ficar uma espécie de flutuação". A falta de uma resolução rítmica - não se sabe onde é o acento do compasso pelo primeiro meio minuto da música - confere ao tema uma sensação suspesa e misteriosa.

Com a microfonagem do baixo nitidamente melhor depois de "Freddie Freeloader" - provavelmente, bastou reposicionar Chambers - , o tranquilo prelúndio prosseguie, embora os passos de um dos músicos sejam ouvidos no estúdio.

IT: Comecem de novo, por favor.

Pode-se ouvir Evans e Chambers, sem qualquer instrução especifica, "sentido" como é a música. Oprelúndio ainda parece levemente fora de sincronia, especialmente quando piano e baixo devem evoluir juntos por uma linha melódica de blues. Quando os metais entram tocando o tema de "So What" num andamneto ligeiramente mais lento que o final, pode-se ouvir um farfalhar de papel. Townsend começa a reclamar do barulho de fundo no estúdio. Davis zomba do produtor, mas com razão. Afinal que quaisquer vibrações em ressonânciacom outros instruentos - no caso a caixa da bateria ce Cobb, que vibrava - deveriam ser consideradas partes da música.

Fonte: Kind of Blue - A Historia da obra-prima de Miles Davis (Ashley Kahn) pp. 114/116.

Boa leitura - Namastê.


Nenhum comentário: